quinta-feira, 31 de maio de 2012

"Perfeitamente Imperfeito" - 6º Capitulo


Os pais do Tomé lá me levaram a casa.
- Obrigada pela boleia. – agradeci.
- De nada querida. Tenta dormir. – disse-me a mãe dele, despediram-se e foram embora.
Dirigi-me até à porta de casa e entrei.
- Mãe, pai?! Cheguei!
- Viste a pé filha? – perguntou o meu pai.
- Não, os pais do Tomé deram-me boleia. – respondi.
- Ok, é melhor tentares dormir, hoje foi um dia cansativo… - aconselhou-me.
- Sim tens razão. Até amanhã! – subi para o quarto.
Vesti o pijama, fui à casa de banho e deitei-me. Naquele momento apercebi-me que estava demasiado cansada para me manter acordada e cai num sono profundo.
Tumblr_m3iyeeqmco1rozbqwo1_500_largeAcho que durante algumas horas dormi bem mas depois comecei a ter pesadelos. Às 5h da manhã acordei bastante assustada, toda suada e suprimindo um grito.
Levantei-me e desci até à cozinha para beber um copo de água. Acabei por ficar na sala, sentada a ver Tv e tentando acalmar-me. O sonho parecera tão real…
Estava a ver aquelas imagens do Tomé vezes e vezes sem conta na minha cabeça, como se alguém estivesse sempre a clicar no play para repetir. A cabeça começou a doer-me, queria parar com aquilo mas não conseguia. Levei as mãos à cabeça e gritei.
- Lúcia, estás bem? – disse a minha mãe descendo as escadas a correr.
Continuei a gritar até as lágrimas me escorrerem pela cara e a voz me faltar.
- Pronto filha, já passou… - tentou acalmar-me.
Já era a 2ª vez que ela me acalmava naquele dia e talvez até ali nunca tivesse percebido o quanto ainda precisava dela.
Naquela noite não dormi mais.
De manhã…
- Mãe vamos para o hospital? – esperando que a resposta fosse sim.
- Talvez seja melhor não. – respondeu.
- Por favor! – pedi e ela aceitou.
Naquela semana não fui às aulas. Passava os dias inteiros no quarto ao lado da cama do Tomé, segurando-lhe a mão e esperando que ele acordasse, algo que não acontecia.
Chegou segunda-feira novamente.
- Filha tens de voltar à escola. – disse acordando-me bem cedo.
- Eu sei… - respondi.
- Além disso os pesadelos já acabaram, pode ser que tudo fique melhor.
- Sim.
Vesti-me, tomei o pequeno-almoço, peguei na mala e sai de casa em direção à escola.
Os meus pais achavam que os pesadelos já tinham acabado mas na verdade não, eles continuavam. Eu é que simplesmente já não gritava, sofria por dentro.
Cheguei  à escola e já tinha tocado para entrar. Dirigi-me à sala e bati à porta.
- Posso entrar? – perguntei.
Toda a turma se virou para mim e me olhou como se eu fosse uma perfeita estranha… Até o professor o fez.
- Claro que sim Lúcia. – disse o professor um pouco atrapalhado.
Dirigi-me ao meu lugar sob todos aqueles olhares e tirei os livros e cadernos de inglês, a disciplina que estávamos a ter.
O professor continuou a olhar para mim com ar preocupado enquanto dava a aula, evitando fazer-me demasiadas perguntas, mas também não me pondo completamente de parte.
Finalmente e para minha felicidade, tocou. Levantei-me para sair.
- Lúcia será que podias falar comigo um pouco? – perguntou o professor.
- Claro… - disse.
Esperei que saíssem todos e fui ter com o professor.
- Sei que o que aconteceu ao Tomé te custa bastante mas só queria que soubesses que todos os teus colegas e professores estão disponíveis para te ouvirem, se quiseres falar sobre o sucedido.
- Sim, obrigada. Se precisar de falar digo, fique descansado.
Ao sair da sala, vi a Íris à porta à minha espera.
- Lúcia que saudades! – disse abraçando-me.
- Eu também tinha saudades. – respondi.
- Vamos ao bar?
- Na verdade prefiro ir andando já para o ginásio, para me equipar para a aula. – disse.
- Como queiras. Eu vou comer, importas-te?
- Não, vai lá. – disse enquanto fingia um sorriso.
- É bom ver-te sorrir!
- Ahahah. – ri.
Ela afastou-se em direção ao bar e eu caminhei sozinha. Sabia que no bar todos me iam olhar de forma diferente e eu ainda não conseguia aguentar isso.
No caminho encontrei o Kiko sozinho.
- Olá! – cumprimentou-me.
- Olá Kiko! – respondi.
- Já voltas-te à escola, isso é bom.
- Sim… - sentei-me ao lado dele no relvado.
- Estás bem? – perguntou-me.
543181_292654410822256_272657876155243_632981_203824397_n_large- Não… Quer dizer, mais ou menos.
- Sabes que podes sempre contar comigo… - disse pondo a sua mão por cima da minha, que estava em cima da relva.
- Sei sim Kiko. Obrigada! – agradeci e ele corou um pouco.
- De nada. – ele agarrou a minha mão.
Apercebi-me do que se estava a passar.
- Kiko, eu…
Bem era tarde demais, ele beijou-me e depois abalou a correr.
Era só aquilo que faltava, o melhor amigo da minha irmã gostar de mim, que complicação!
As aulas correram bem com todos a olharem para mim de uma forma que nem consigo explicar. Assim que tocou para a saída à tarde, saí à pressa e fui para o hospital.
A enfermeira já sabia que eu ia aquela hora, deixou-me entrar para o quarto do Tomé. Puxei um banco e sentei-me ao lado dele.
- Sabes hoje fui à escola, foi estranho. Todos me olhavam como se tivessem pena de mim… É difícil estar lá sem ti, sabias? Sinto a tua falta, sinto a falta das nossas conversas. Nem sabes o que aconteceu, o Kiko beijou-me. Sempre soube que ele sentia qualquer coisa por mim mas nunca pensei que fizesse isto. Não sei o que fazer, se tu aqui estivesses sei que saberias. Volta depressa Tomé, todos precisamos de ti! Eu preciso de ti…
Sei que devem achar que estou maluca por falar com ele, mas o médico disse que ele talvez ouvisse o que nos dizemos e além disso aquilo era reconfortante. Só o queria ali comigo!

Estão a gostar? :$

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